Opinião

Terceira: potencial, talento e resiliência

A Ilha Terceira, e a Região como um todo, enfrentam desafios estruturais que não podem ser ignorados. Se queremos uma economia mais forte e competitiva, precisamos de mais do que boas intenções: é fundamental agir com rapidez, eficiência e visão estratégica. No recente roteiro "Açores Sempre Perto" que realizei na Ilha , em contacto com representantes dos setores económicos e produtivos da ilha, foi possível constatar que é urgente uma resposta mais ágil das entidades públicas, uma execução mais eficaz dos fundos comunitários e um plano sólido para os transportes.

É inegável que os empresários, agricultores e comerciantes da Ilha Terceira estão a inovar e a contribuir para o desenvolvimento sustentável da Região. O projeto Bananika é um excelente exemplo disso: criatividade e inovação ao serviço da economia, combatendo o desperdício e agregando valor à produção local. Mas a inovação sozinha não basta. Sem um apoio eficaz das políticas públicas e um acesso facilitado aos mercados, iniciativas como esta enfrentam barreiras que podem comprometer o seu sucesso.

Na agricultura, setor essencial para a economia da ilha, a necessidade de um apoio específico e contínuo foi evidenciada no encontro com a Associação Agrícola da Ilha Terceira. A política agrícola europeia tem vindo a reconhecer a singularidade das Regiões Ultraperiféricas, mas ainda há muito a fazer para garantir que os apoios cheguem de forma eficaz e que os desafios, como o preço do leite e a falta de mão de obra, sejam enfrentados de maneira estruturada.

 A acessibilidade e os transportes são outro eixo fundamental para o crescimento sustentável da ilha. A falta de uma visão clara para esta questão compromete não só o desenvolvimento económico, mas também a qualidade de vida dos açorianos. A reunião com a Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo destacou esta preocupação e reforçou a necessidade de integrar os Açores numa estratégia de mobilidade e logística europeia que potencie a sua economia e assegure a sua integração plena no Mercado Único Europeu.

Mais do que um debate institucional, estas questões são decisivas para o futuro da nossa Região. A Ilha Terceira tem potencial, talento e resiliência, mas precisa de mais do que palavras: precisa de ação concreta. O desenvolvimento sustentável não acontece por acaso - é fruto de escolhas políticas acertadas e de uma governação que entenda as reais necessidades da população e do tecido empresarial.

A ligação entre o Parlamento Europeu e a realidade das nossas ilhas deve ser constante e produtiva. A Europa pode e deve ser um motor de crescimento para os Açores, mas para isso precisamos de garantir que as políticas e os fundos europeus são aplicados de forma eficiente e com impacto real e que, por cá, nos focamos mais em fazer o que nos compete e menos em procurar divisões ou desculpas para manter tudo como está. Este é o caminho para um futuro mais próspero e competitivo para a Ilha Terceira e para toda a Região.

Autonomia sem favores
Afirmar soluções próprias que respondam aos problemas sentidos em cada uma das nossas ilhas e que corrijam e recuperem do atraso secular a que fomos votados pelo Estado central. Para além da representatividade política e institucional, este é principal desígnio da Autonomia regional. Isto não significa que o Estado se deve desresponsabilizar, como vezes demais faz, dos seus deveres perante os portugueses que vivem nas regiões autónomas. Mas, também não significa que, perante dificuldades e até o reconhecimento de "inconseguimentos" políticos, capitulemos e entreguemos, de olhos fechados, à governação central o que custou tanto a tantos conquistar.  Autonomia sim, por direito próprio, sem favores ou capitulações, exigente connosco próprios para podermos também exigir dos outros.